O DICIONÁRIO E A ÚLTIMA FALANTE
Thomas Bridges foi filho adotivo de um Missionário Anglicano que viveu por alguns anos em Ushuaia – Terra do Fogo. Quando seu pai retornou para Inglaterra, Thomas tendo apenas 17 anos de idade decidiu ficar e viver entre os Yámanas, pois já havia aprendido sua Língua Ancestral. Posteriormente, Thomas retornou brevemente à Inglaterra na companhia de um de seus amigos Yagan, onde lá casou-se e em seguida retornou ao Fim do Mundo.. Algum tempo após seu retorno, fundou o que viria a ser a primeira Estância da Terra do Fogo, distando cerca de 65Km ao sul de Ushuaia. A propriedade recebeu o nome “Harberton”, sendo até hoje é administrada pela família. Thomas veio a ser uma espécie de protetor da cultura ancestral Fueguina e escreveu o primeiro dicionário (Yagn/Inglês) existente na história. Em 1897 Bridges conheceu o médico e explorador americano Frederick Cook, o qual estava de passagem rumo à Antártida. Durante sua passagem pela Terra do Fogo, Cook e Bridges conversaram a respeito da língua Yámana e este lhe pediu o dicionário emprestado por algumas semanas. Porém Cook jamais o devolveu, acrescentando algumas poucas palavras ao livro. Em 1910 o Jornal New York Times publicou uma matéria sobre ele, informando a todos que a sua conclamação de ter sido o primeiro homem ao atingir o Pólo Norte no ano de 1909 foi uma farsa, além de que o livro em sua posse, e que ele estava tentando publicar, foi negado por uma comissão Belga por suspeita de plágio. Somente no ano de 1933 o filho de Thomas (Lucas Bridges) conseguiu reaver o livro e provar que o mesmo havia sido escrito por seu pai. Thomas Bridges faleceu no ano de 1898 sem nunca ter reavido seu trabalho. O Povo Yámana, por sua vez, sofreu um enorme colapso ao longo dos anos, principalmente em razão do contato e da colonização européia. Seus descendentes foram se extinguindo aos poucos e restando atualmente uma única pessoa de sangue puro, a Sra. Cristina Calderón – a única e última falante de sua Língua Ancestral. A Sra Cristina Calderón em 2003 foi Declarada Tesouro Vivo e Imaterial da Humanidade pela Unesco, assim como Filha Ilustre da Província de Magallanes, Antártica y Tierra del Fuego. Em Novembro de 2016 foi eleita Heroína Nacional do Chile.
A primeira foto da primeira edição brasileira (2015) do meu livro em Villa Ukika (Ilha Navarino – Cabo de Hornos) último ponto habitado antes da Antártida – onde mora Abuela Cristina Calderón, quem me inspirou a uma das principais personagens do livro.
Na foto: Camila Alvarado Balfor, descendente do Povo Yámana.
Pedra retirada da Baia Mejillones – Ilha Navarino – Cabo de Hornos (Chile), enviada à Washington D.C (EUA) para representar o Sul do Mundo no Museu do Índio Americano. Assim que carregada, antes de embarcar, a Comunidade Yámana tirou a foto que servirá como um lindo memorial para os que virão, em especial pelo fato da Sra. Cristina Calderón estar nela.
TERRA DO FOGO. Tão Mágica, tão Mística, cheia de Encantos! Foto: Martin Gusinde – Missionário e Antropólogo.
Foto de Crianças Fueguinas tirada pelo Missionário e Antropólogo Alberto di Agostini na década de 1920. Agostini ficou também conhecido na história pelo apelido de “O Missionário Aventureiro”.
Em 30/08/2016 comemorou-se o CENTENÁRIO do resgate da maior Expedição Antártica de todos os tempos: A Expedição Transantártica Imperial Britânica de Sir Ernest Schackleton, em 30 / 08 / 1916 na Ilha Elefante, quase 2 anos após eles terem sido todos dados como mortos.
A proa do Rebocador Chileno que resgatou sua expedição tornou-se Monumento Mundial, localizado na Ilha Navarino (Cabo de Hornos), último ponto habitado antes da Antártida. Parabéns Schackleton, Parabéns Chile. Minhas mais sincera reverência a estes homens de coragem.
Essa é uma das fotos mais lindas que já encontrei de Anne Chapman, tirada ainda na década de 1940 próximo a região do Ushuaia. De origem Franco-Americana (1922 – 2010) Chapman foi uma das mais importantes etnólogas que atuaram na Terra do Fogo. Seu principal trabalho realizado em 1966, consistiu em registrar os mantras entoados nas Cerimônias Secretas do Hain, junto de Lola Kiepja (considerada a última Xamã). Este trabalho lhe rendeu em 2003 o título de Doctor Honoris Causa pela Universidade de Magalhães – Chile.
A Terra do Fogo é dividida entre Argentina e Chile. Abaixo suas respectivas bandeiras (Argentina acima / Chile abaixo), onde em ambas figuram a Constelação do Cruzeiro do Sul.
A Constelação do Cruzeiro do Sul possui esse nome devido às grandes navegações, quando os navegantes se lançaram na descoberta de novas terras no hemisfério Sul. É uma das constelações que mais facilitam a nossa orientação, pois seu braço maior aponta exatamente para a projeção do Polo Sul Terrestre, na esfera celeste. Há ainda uma 5º estrela entre a cruz, chamada popularmente de Intrometida.
Desde que eu estudei sobre os Fueguinos, antes mesmo de ir até o Fim do Mundo, me encantei com sua sabedoria e modo de viver. Guardei esta foto que encontrei para posta-la no momento pertinente, já que estamos tendo as Olimpíadas. Seus 3 diferentes clãs realizavam, de tempos em tempos jogos que serviam, além da celebração, para sanar suas diferenças e desavenças. Haviam regras, lutadores deviam ter peso e altura semelhante, assim como os arqueiros o mesmo grau de destreza. Haviam também outras modalidades de jogos, dos quais falarei mais a respeito posteriormente. Eis mais uma prova da sua beleza e sabedoria, pois trata-se de um povo que viveu isoladamente do mundo, cujo início de sua civilização nos remete há mais de 10.000 anos de história.
Foto dos últimos Fueguinos da etnia Selk´nam tirada em 1909, os quais foram realocados na Isla Dawson pela Missão Salesiana Inglesa. Os Selk´nam era o maior dentre os 3 principais grupos (etnias) e ocupavam quase que exclusivamente a Ilha Grande da Terra do Fogo, local que sofreu o maior impacto com a invasão européia. Foi o primeiro grupo a ser praticamente extinto. A Isla Dawson (pertencente ao Chile) é a principal ilha existente ao longo do Estreito de Magalhães, localizada próxima ao Pacífico, e onde no final do século XVIII a Missão Salesiana Inglesa se estabeleceu com o intento de minimizar o impacto causado pela invasão européia.
Uma linda foto da cidade de Ushuaia, tirada no ano de 1930. Autor desconhecido.
Foto tirada por volta de 1920 por Alberto di Agostini (o missionário aventureiro) traduz a beleza e a magia desse povo lindo, místico e rico em sabedoria e cultura. Seus grupos costumavam a ser familiares, conforme casavam-se, novos membros iam se incorporando a eles. Nesta foto aparecem sorrindo, valendo a pena ressaltar que os povos ancestrais em sua total maioria não lidavam bem com a questão da fotografia e a artificialidade de sentimentos, muito menos os Fueguinos, razão pela qual pode se ter certeza, de que a expressão de alegria contida em seus rostos é puramente o reflexo de suas almas.
Dentre os Ancestrais Fueguinos havia 3 principais grupos: Os Selk´nam (também conhecidos por Onas), os Alakalufes e os Yámanas (ou Yagáns). Embora suas culturas sejam próximas, mas dentre elas os Selk´nams representavam um povo caçador. Há registros de que a estatura média de seus indivíduos era ao redor de 1,80m. Os mais altos alcançavam facilmente 2,5m, gerando até hoje uma série de especulações. Há registros encontrados junto ao diário do engenheiro Julius Popper que declarava ter estado diante de “anões e gigantes”. Nesta foto: Selk´nams caçando. Seus instrumentos de caça, aros e flechas, eram tão perfeitos que apenas nos dias de hoje pode-se reproduzi-los utilizando tecnologia moderna.
Rosa Yagán (1900 – 1983) é o nome de Lakutaia Le Kipa, originária de um dos clãs fueguinos fundamentalmente canoeiro do arquipélago de Cabo de Hornos. Na década de 80, de seus últimos contatos com a escritora Patrícia Stambuk na cidade de Punta Arenas, gerou um livro sobre suas origens. Quando se teve o conhecimento da existência de Le Kipa, quase todos os clãs fueguinos já haviam desaparecido. Sabe-se que era uma mulher conhecida por sua beleza e também por ser vaidosa. Na foto: Le Kipa por volta de 1930.
Os famosos círculos de pele de guanaco feitos pelo Fueguinos, geralmente nas orlas ou as margens dos inúmeros canais entre as ilhas onde viviam. Esses círculos não eram suas moradias, mas sim acampamentos onde passavam boa parte do tempo. Em seu centro acendiam fogueiras para aquece-los, e a parte superior nunca era fechada por completo, pois adoravam admirar o céu e as estrelas. Reparem nas bolsas que as mulheres teciam. Foto foi tirada por Alberto di Agostini por volta de 1930.
Livros publicados pelo Missionário Salesiano, geógrafo, antropólogo e aventureiro: Alberto de Agostini.
Seus trabalhos foram escritos e publicados em diversas línguas, dentre elas o Alemão, Italiano, Polonês e Espanhol.
Além dos livros, Agostini fez um filme que se tornou um documentário importante sobre a Terra do Fogo. Deixou também um dos maiores acervos fotográficos já realizados no extremo sul da América.
Mulheres Fueguinas, provavelmente da etnia Selk´nam (Onas), pois foram fotografadas por Alberto di Agostini, o sacerdote aventureiro e artista de origem polonesa que ficou conhecido por suas façanhas escalando montanhas, dentre elas a perigosa montanha Fitzroy e o Monte Olivia, na região de Ushuaia. Foto tirada por volta de 1930 na região de Ushuaia.
Alberto de Agostini, o missionário aventureiro de origem polonesa. Fotógrafo, montanhista e geógrafo, viveu por cerca de 30 anos na Terra do Fogo, registrando o cotidiano do Povo Fueguino, em especial dos Selk´nam. Agostini se preocupava com o futuro dos Fueguinos, principalmente das crianças. Ficou conhecido por suas façanhas escalando montanhas, dentre elas a perigosa montanha Fitzroy e o Monte Olivia, na região de Ushuaia. Faleceu em 1960 e deixou vários livros publicados, boa parte deles de fotografia e guias de viagem. O Parque Nacional Alberto de Agostini no Chile recebeu seu nome em sua homenagem.
Foto de líder Yámana com Alberto de Agostini em 1875. Agostini foi explorador, fotógrafo e presbítero salesiano de origem polonesa, conhecido por seu trabalho missionário. *A crença dos Yámanas se baseava na existência de um Deus único (Watauinewa), que significa “o antigo, o velho, o invariável, o eterno”. Também era chamado respeitosamente de “meu pai” ou “o forte, todo poderoso”. Um ser intangível, o qual morava no céu. Era justo e criador de todas as coisas, sendo que ele, o monarca, era própria criação em si. Esse Deus nos dá tudo, o alimento, a vida e a morte. Enxerga a tudo que acontece no mundo.
“A utopia é uma linha no horizonte, rindo e zombando da gente. Mas implorando incessantemente, para nunca deixarmos de busca-la”.
Foto: Eu com Christian e sua filhinha em Vila Ukika – Cabo de Hornos, último ponto habitado do planeta antes da Antártida, onde na década de 60 foram realocados os últimos 51 descendentes da Terra do Fogo.
Placa encontrada no pequeno cemitério inglês existente aos arredores de Puerto del Hambre, próximo ao Fuerte Bulnes – Estreito de Magalhães, onde ainda hoje se encontram os restos mortais do 1 Comandante do Navio HMS Beagle. Em razão desse trágico episódio um novo comandante foi contratado pela Coroa Britânica (Robert Fitzroy) para continuação do mapeamento da costa e ilhas do extremo sul, sendo este ocorrido determinante para a vinda de Charles Darwin ao extremo sul da América.
Depois que postei, um amigo perguntou se essa foto era verdadeira ou montagem, e se verdadeira, o que Darwin estaria fazendo no Rio de Janeiro. A resposta é SIM e SIM, a foto é verdadeira e Darwin esteve no Rio de Janeiro por algumas vezes. O navio HMS Beagle, no qual ele deu a volta de circunavegação no mundo foi reformado em 1830 no Porto do Rio, e foi no Rio de Janeiro que ele e FitzRoy embarcaram em 1832 no Beagle para iniciar seus trabalhos, passando pelo Fim do Mundo inclusive.
Réplica de cabana Yámana, localizada em Villa Ukika – Ilha Navarino (Chile), onde na década de 60 foram realocados os últimos descendentes do Povo Fueguino de etnia Yámana. Essa cabana serviu-me de inspiração para o cenário do último capítulo do livro “21 Dias Nos Confins do Mundo”, quando o viajante deveria aguardar até determinada hora da noite e ao ouvir o som do 3º sino, caminhar ao longo de uma trilha até o local onde o aguardavam para a Cerimônia Secreta do Hain.
Augustus Earle, pintor e desenhista inglês, formado em 1815 na Royal Academy. Em 1817 iniciou uma série de viagens pelo mundo e 1820 esteve no Brasil pela primeira vez. Em 1824 tornou-se amigo da escritora Maria Graham, a quem ele presentou com ilustrações destinadas ao livro que ela estava escrevendo: Jornal of a Voyage to Brazil. Sempre sedento por aventuras e lugares exóticos, em 1831 Earle tornou-se o desenhista oficial da expedição do navio HMS Beagle à Terra do Fogo, sob o comando de Robert Fitzroy e a companhia do jóvem naturalista Darwin. As 03 crianças fueguinas raptadas e devolvidas à Terra do Fogo em 1832 foram desenhadas por ele numa de suas viagens a bordo do Beagle.
Mulheres Fueguinas. Foto tirada próximo a Estância Harberton (Terra do Fogo) em 1923, pelo missionário e antropólogo alemão Martin Gusinde.
“Por horas ficava sentado com eles na ronda, esforçava-me em me desfazer totalmente da forma de pensar europeia, dos juízos valorativos modernos e do sentir pessoal, para conseguir compreensão e sensibilidade, e poder captar um mundo conceptual sumamente particular, pois se não o pudesse senti-lo, não o teria para sempre.” (Martin Gusinder).
Em 2009, quando do bicentenário natalício de Charles Darwin, o Governo Britânico em parceria com o Governo do Chile inauguraram alguns marcos históricos por onde Darwin passou. Dentre eles, as placas comemorativas na Ilha Navarino (Cabo de Hornos), onde Darwin desembarcou juntamento com o Comandante Robert Fitzroy e ali permaneceu entre 1832 e 1835, registrando informações que foram decisivas para a formulação de sua “Teoria da Evolução das Espécies”.
“Penso que eu não deva ser o único a quem isto lhe acontece, porque estes áridos desertos têm enraizado tão profundamente na minha memória?” (Charles Darwin).
Esteban Lucas Bridges, primeiro homem branco a nascer na Terra do Fogo. Seu pai, Thomas Bridges, foi filho adotivo de um missionário anglicano que retornou à Inglaterra, quando ele aos 18 anos, decidiu ficar. Sua família construiu a primeira estância da Terra do Fogo (Harberton), localizada 70 Km ao sul da cidade de Ushuaia. Sua família teve papel crucial na sobrevida de clãs Fueguinos, em especial Yámanas e Selknams, pois seu pai permitiu que os índios pudessem se estabelecer em suas terras e continuar livremente com seu modo de vida. Lucas Bridges foi o único homem branco a participar da cerimônia secreta do Hain (sociedade secreta da Terra do Fogo). Trago parte de sua história em meu livro.
– Martin Gusinder (1886 – 1969), antropólogo e missionário austríaco que efetuou um dos mais grandiosos trabalhos de registro da cultura Fueguina. Em 1923 realizou o que viria a se tornar um dos seus mais importantes registros fotográficos, incluindo os preparativos para última cerimônia secreta dos membros do Hain.
– Anne Chapman (1922 – 2010), importante etnóloga franco-americana que em 1966 realizou o registro dos mantras entoados nas cerimônias secretas do Hain, junto aos últimos descendentes puros do Povo Fueguino. Este trabalho lhe rendeu em 2003 o título de Doctor Honoris Causa pela Universidade de Magalhães – Chile.
The Fueguin Beauty / La belleza Fueguina.
Foto tirada em 1923 por Martin Gusinder, missionário e antropólogo alemão que viveu na Terra do Fogo no início do século XX.
Em 1923 antropólogo Martin Gusinder registrou em fotos o que teria sido os preparativos para última cerimônia da Sociedade Secreta da Terra do Fogo, que em pouco tempo depois foi extinta dramaticamente. Em seus rituais participavam 33 membros, com vestes e nomes distintos. O local da cerimônia se chamava “Hain”, e de acordo com sua crença, era o “único lugar no mundo onde os Deuses meditavam em paz”. Em 1966 a etnóloga Anne Chapman efetuou um trabalho junto aos últimos descendentes Onas, registrando os 34 mantras entoados nas cerimônias. Abaixo as figuras que representavam as divindades: Tanu, Ulen e Halahache.
Emilio Solanet e Aimé Tschifelly, o primeiro veterinário e o segundo um famoso cavaleiro e aventureiro suíço que se mudou para Argentina, ficou conhecido por ser o mais famoso cavaleiro de longa distância de todos os tempos. Em 23/04/1925 começou sua jornada de Buenos Aires à Nova York. Os cavalos escolhidos: Mancha e Gato, nascidos na Patagônia e acostumados à condições climáticas hostis. em Setembro de 1928, Aimé e seus 2 cavalos foram recebidos com honra pelo Prefeito de NY, Jimmy Walker. Falo um pouco sobre essa fantástica odisseia em meu livro “21 Dias Nos Confins do Mundo”.
Quando o capitão Robert Fitzroy assumiu o comando do navio Beagle, em sua primeira viagem ao Fim do Mundo, ele teve a ideia de raptar 4 crianças e levar consigo, afim de mostrar a Europa que aqueles que viviam isoladamente em terras tão distantes não eram selvagens e poderiam ser civilizados. Às crianças foram dados nomes engraçados que se referiam a eventos vividos pela tripulação em outras viagens do Beagle: Fueguina Bascket, Boat Memory, York Minster e Jemmy Button. Infelizmente o pequeno Boat Memory morreu de varíola assim que chegou na Inglaterra. Pelo que me consta, esta foto é atribuida a pequena Fueguina Basket.
Percorrido a primeira vez por Fernão de Magalhães no dia 01 de Novembro de 1520, recebeu o nome de Estreito de Todos os Santos. Sua extensão de 600 Km é dividida entre o Chile e a Argentina desde 1881. Apesar da sua primeira incursão ter sido realizada no ano de 1520, já havia o registro de um mapa no cartório de Alcobaça (Portugal), onde Fernão tomou o conhecimento do estreito. Entretanto, tais registros já possuíam mais de 100 anos. Embora a abertura do Canal do Panamá em 1914 tenha absorvido a maior parte do fluxo das navegações entre os dois oceanos, o Estreito de Magalhães continua até hoje sendo o principal meio de ligação natural entre os oceanos Atlântico e Pacífico.
Construída em 1889 no maior estaleiro do mundo na época (Irlanda), possuia capacidade para 1900 toneladas. Em 1909, numa de suas viagens, incendiou-se em Puerto Stanley / Malvinas, precisando ser afundada para apagar o incêndio. Adquirida por um comerciante de Punta Arenas (Chile), foi utilizada como plataforma flutuante até ser vendida para desmanche. Seus únicos restos descansam majestosamente no litoral da cidade de Punta Arenas, sendo declarada pelo governo chileno como reliquia histórica e fazendo jus a seguinte homenagem: FRAGATA LORD LONSDALE “Homenaje a los marinos de todas las nacionalidades que surcaron el mar magallánico e hicieron posible el mejor conocimiento y la colonización de la región”.
Imagens do cotidiano da vida Fueguina em seus primórdios. (The daily life of Fueguin People in its beggining / La vida cotidina del Pueblo Fueguino en su comienzo).
A beleza do Povo Fueguino. The beauty of Fueguino People / La belleza de la gente Fueguina.
A beleza do Povo Fueguino, em seus primórdios. Talvez eu seja suspeito quando falo que os considero um dos povos mais lindos que já habitou a terra, mas a verdade é que quanto mais me aprofundo em sua história, sua sabedoria, suas dificuldades e a forma como encaravam os mistérios da vida e a natureza majestosa que os cercava, mais me encanto com eles. Essa foi uma das razões que me levaram até o Fim do Mundo e pela qual escolhi a Terra do Fogo como cenário principal para viver a experiência que trago meu livro.
Cenas que retratam o cotidiano dos ancestrais do Povo Fueguino. Suas histórias reais, aventuras e lendas são belíssimas e incríveis, capazes de encantar e surpreender até mesmo aqueles que adoram contos ao estilo de Harry Potter e Senhor dos Anéis.
Crianças Fueguinas em seu modo natural de vida.
(Children from Tierra del Fuego in their natural way of life / Niños de Tierra del Fuego en su camino natural de la vida) Fotos do início do século XX.
Ao longo da minha jornada pelo Fim do Mundo, enquanto percorria o imenso e desfragmentado arquipélado da Terra do Fogo ao longo do Canal Beagle, o tempo virou. Nevava e ventava muito, obrigado-nos a nos refugiar na Ilha Gable – próxima a desembocadura do canal e onde se encontram os oceanos Atlântico e Pacífico. Já estando no abrigo, feito para esse fim para que sirva de refúgio aos que por ali precisem se abrigar, encontrei coisas muito simples: um aquecedor fogareiro a lenha, um machado para cortar lenha, cartas náuticas, água e inúmeras lembranças como: cartões postais, fotos e pequenos bilhetes com frases de incentivo e reflexões aos que por ali passaram e seguiram sua jornada. Fazendo uma analogia da nossa vida com este refúgio, foi inevitável não pensar na nossa passagem pela Terra como um refúgio. Um lugar onde resolvemos parar por um tempo ao longo da nossa infinita e eterna jornada pelo Universo (devido a uma razão qualquer) e onde aqui deixamos alguma coisa aos que virão, assim como levamos um pouco de tudo e todos que encontramos. Na foto: Eu com um dos meus guias, acompanhados de um aventureiro que por ocasião do destino parou ali pela mesma razão e compartilhou conosco um pouco de sua vida, e levou consigo também um pouco da nossa.
Por volta do ano de 1826 a Coroa Britânia contratou um dos melhores capitães da época para comandar o seu navio HMS Beagle na missão de mapeamento das ilhas do extremo sul. Seu nome era Pringle Stokes. Depois de 3 longos anos enfrentando as piores intempéries e após ter recebido um comunicado da Inglaterra de que teria de permanecer ainda por mais 5 anos efetuando os árduos serviços hidrográficos no Fim do Mundo, o capitão Pringle Stokes dirigiu seu navio HMS Beagle até a cidade de Punta Arenas, e num local chamado Puerto Hambre ancorou. Após isso, trancou-se em sua cabine por 14 dias e depois de longa angústia efetuou um disparo contra si mesmo, suicidando-se. A Coroa Britânica tratou de substituí-lo por um audacioso e jovem capitão chamado Robert Fitzroy, que tomando conhecimento das dificuldades que teria pela frente e com medo dos longos períodos de solidão, exigiu que a Coroa lhe concedesse uma pessoa instruída para lhe fazer companhia e ter com quem conversar. E foi assim que um jovem naturalista chamado Charles Darwin, sabendo da possibilidade que teria de percorrer territórios jamais explorados pelo homem, e motivado principalmente pelos seus estudos sobre a evolução das espécies, candidatou-se para viagem, vindo a ser escolhido e posteriormente convivendo com o Povo Fueguino por 3 anos, entre 1832 e 1835. Resumo: insondáveis desígnios de Deus e da história da vida e do homem, em que a história se escreve e reescrever. O fim trágico e inesperado do Capitão Pringle Stokes não somente escreveu, mas reescreveu a história e o papel do homem na vida e nos caminhos e mares do extremo sul para todo o sempre.
A Terra do Fogo se divide entre Argentina e Chile, possuindo como principal divisor natural um canal de mar chamado Canal Beagle, banhado pelos oceanos Atlântico e Pacífico. Este canal possui extensão de cerca de 300km e uma largura mínima de 5km. O primeiro navio a reconhecer e mapear suas águas e ilhas foi o navio inglês HMS Beagle sob o comando do Capitão Robert Fitzroy, tendo a bordo o naturalista Charles Darwin. Com seus feitos e após uma viagem de circum-navegação, tornou-se o navio mais famoso até hoje na história. O que poucos sabem é que o HMS Beagle passou por uma reforma no Porto do Rio de Janeiro em 1828, pouco antes de retornar a Inglaterra, de onde partiria tendo Darwin a bordo e com destino ao Fim do Mundo. *Na foto acima: tela pintada pelo artista Conrad Martens, contratado para expedição de 1833. Abaixo: réplica do navio HMS Beagle sendo reproduzida em um dos estaleiros da cidade de Punta Arenas (Chile).
A milhares de anos o mundo conhecido pelos Fueguinos era regido pelas mulheres. Num dado momento um grupo de homens decidiu tomar a magia e o conhecimento para si, desvirtuando tudo aquilo que era tido como sagrado. A partir desse episódio em sua história, ocorreu a criação de uma Sociedade Secreta. Seus ritos eram realizados em um local conhecido pelo nome “Hain”. Suas reuniões eram exclusivas de seus membros, e seu grupo era composto por entidades de diferentes “motivos” (caracteres).
A Terra do Fogo é cercada de encantos e mistérios. Seu povo não era tão simplesmente um agrupamento de índios. Era um povo que continha sabedoria, cultura própria e um vocabulário rico e complexo. Seus primeiros registros datam de aproximadamente 11.000 anos. Existia também entre eles uma Sociedade Secreta e no início de sua civilização o mundo como eles viam era regido pelas mulheres. Elas tinham o poder sobre o conhecimento, a magia da Vida e do Universo. Falarei mais a respeito deles adiante. Em meu livro “21 Dias Nos Confins do Mundo” resgato um pouco da história desse povo maravilhoso e único, o qual não existe mais.
HARBERTON – É um lugar mágico, encantador e é impossível falar do Fim do Mundo sem menciona-la. Seu fundador, Thomas Bridges, era filho adotivo de um missionário anglicano enviado a Terra do Fogo. Quando seu pai decidiu retornar à Inglaterra em 1869, Thomas aos 17 anos decidiu permanecer no Fim do Mundo e viver entre os nativos. Em 1886, quando finalizou seus serviços como missionário, fundou a primeira Estância da Terra do Fogo, localizada 65 quilômetros ao sul de Ushuaia e cujo nome remete ao local de nascimento de sua esposa na Inglaterra. Seu filho Lucas Bridges foi o primeiro homem branco a nascer nessas terras tão distantes e misteriosas. Sua história de vida é linda, e seu papel foi fundamental ao povo fueguino minimizando os impactos causados pela exploração europeia, além de ter vivido décadas entre eles e escrito o primeiro e único dicionário Yagan-Inglês existente até hoje no mundo. Falo sobre esse lugar encantador e sua história de vida em meu livro “21 Dias Nos Confins do Mundo”.
Antes mesmo da Espanha, Argentina e Chile se interessarem pelas ilhas do extremo sul da América, a Inglaterra já havia feito o mapeamento dos pedaços de terra tão longínquos e misteriosos. Viviam em condições extremas de frio e isolamento e para se protegerem do frio, faziam enormes fogueiras que eram mantidas incessantemente acesas, as quais levantavam enormes colunas de fumaça capazes de serem vistas a dezenas de quilômetros, o que motivou os exploradores a darem o nome à aquele misterioso lugar de Terra do Fogo. O Povo Fueguino era sábio, via a divindade em toda natureza e acreditava na existência de um Deus maior, único, o qual possuía o poder de manter o equilíbrio da vida no Universo. Eram imensamente felizes, embora vivessem de forma tão rudimentar e precária, o que até hoje intriga antropólogos e cientistas em todo o mundo. Darwin conviveu com eles na Ilha Navarino, entre os anos de 1832 e 1835.
1) Fitzroy: comandou o navio HMS Beagle em viagens de mapeamento da Costa e das Ilhas que compõe a Terra do Fogo; 2) Darwin: conviveu durante 3 anos com os ancestrais fueguinos na Ilha Navarino – Terra do Fogo, estudo determinante para sua Teoria da Evolução das Espécies; 3) Schackleton: participou de 3 expedições à Antártida, sendo 2 delas em seu comando. É tido como o maior explorador antártico de todos os tempos; 4) Alejo Contreras: é o único homem da atualidade a receber o título de explorador. Desde a década de 80 realiza expedições à Antártida, sendo que em uma delas na companhia do astronauta Neil Armstrong (o primeiro homem a pisar na lua).